domingo, 30 de dezembro de 2018

Dei a mão à palmatória

Na Escola do Largo do Leão, a mesma do Saramago, Lisboa, 1954. com Joaquim Antunes, Quaresma , Manuel Flora, Júlio Henriques, Diniz, Pina Manique e outros, no meu terceiro ano primário.

Um dia peguei minha tia Elisa, irmã de meu pai, conversando com a professora, Dona Ermelinda:
- E ele (referia-se a mim) porta-se bem ????
- Porta sim... Só nos intervalos que ele chega na sala de aula transpirando, todo molhado, afogueado, a respiração ofegante e o coração a bater como que de um cavalo...
- Ah! (disse a minha tia, irmã de meu pai que ora eu amava, ora odiava) A senhora "chegue-lhe"! Com umas boas palmatoadas ele entra nos eixos!!! (note-se que eu vivia num quarto e sala alugado, cozinha e banheiro comuns, e para me divertir só tinha o intervalo da escola.

A partir daí a professora passou a satisfazer seus instintos nazistas "chegando-me", dando palmatoadas cada vez mais fortes. ]Mas o que ela não sabia é que tinham despertado em mim um grande desafio: De um lado, minha tia preocupada com minha "educação", e minha professora armada com um canhão de dar palmatoadas que pareciam coices de mula. Do outro lado eu, que com 9 anos já lia o "cavaleiro Andante", "Robin dos Bosques", Tim-Tim, o "Príncipe Valente" e "Neco e seu tio Patareco"...

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Um amigo meu ainda ainda me perguntou:
-Olha lá... Tens algum conhecido que tenha um cavalo ????
- Não... Porquê ????
- Porque se tivesses arrancavas uma crina do rabo do cavalo, passavas no azeite, e seguravas na mão, que quando a Dona Ermelinda te batesse, a palmatória rachava toda aos pedacinhos.

(Isso eu só conseguiria se fosse a Fornelos nas férias, minha terra querida onde nasci, no Norte de Portugal). Fui, mas tinha que resolver o problema bem antes)

E então, passados uns dias, resolvi pôr fim ao sofrimento: Depois de chegar quase desmaiado de tanto correr no intervalo, cheirando a sovaco, todo molhado, esperei a turma entrar quase toda e fui oferecer a minha mão à palmatória da professora.

Silêncio total!
(Eu e Diniz costumávamos ser escolhidos para corrigir os trabalho da turma, e quando a professora saía de sala me escolhia normalmente, para "tomar conta".

Ela me olhou bem nos olhos e me mandou sentar.

Que me lembre, nunca mais ela bateu em ninguém na sala. Todos os antigos alunos devem dizer que ela era uma ótima professora... De mim, e disto acho que ninguém se lembra, mas todos levavam perus de natal pra senhora "fessora".


Rui Rodrigues

domingo, 16 de setembro de 2018

Não deixe o tempo se esfumar.




Sabemos e está comprovado que não podemos separar espaço de tempo. O que existe, e pelo que parece sempre existiu antes mesmo de nosso universo, um entre uma infinidade deles, é o espaço-tempo, uma coisa só....

Agora vamos raciocinar...

Quando dizemos: O tempo passou, queremos dizer que o espaço que existia, com tudo que continha, casa, carro, papagaio periquito, mala amores e cuia, também se esfumou, não existe mais...

Péra aí...

Passou, e não existe mais ou ficou congelado, ou "evoluiu" de outra forma ou de outras formas diferentes das que vemos neste instante ???

E parece que se evapora a cada instante porque não se pode voltar no tempo nem um microssegundo sequer...

Não deixe o tempo passar. Escolha o seu futuro...

Rui Rodrigues

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Beto, Mai e Marcia



Em meio a crise, voltei a Portugal já empregado, e cheguei a pensar em arrumar um jazigo por lá em 1990- Início da "Já era a Era Collor"... Fiz bem... Mas depois o Collor levou pénabunda e voltamos...

Foi um período calmo... Na foto meu filho, minha filha e uma sobrinha, a Marcinha, que ainda é como se fosse também uma filha (as amizades de convivência são sempre eternas, salvo tropeços, ou vacilos). Foram de trem curtir um giro pela Europa com direito a Paris e Londres. Minha filha tinha 17 anos e meu filho 15.

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Poderia dizer-se: epa... Tava podendo...

Mas não... Uma vez na Europa, ganhando em Euros (cheguei na época da troca de escudos para Euros), tudo ficava perto e barato usando trens... O trio se portou direitinho e nem gastaram a graninha extra que levaram pra um caso de imediata necessidade... Se fosse "pior" ainda havia o telefone...

No fundo a minha felicidade de viver a minha vida profissional era acrescentada por viver a vida de meus filhos.... Eu me imaginava no lugar deles.

Quando tinha 8 anos de idade, fui a Fornelos - minha terra natal-
- de férias , de carro, com minha prima Fernanda. ela veio antes, eu fiquei mais uns dias. Pra voltar, meu padrinho Faustino, amigo "irmão" de meu pai na juventude, me levou a Santa Marta de Penaguião, me deu as dicas, e pediu a duas velhinhas que me cuidassem na baldeação do Porto para Lisboa. Eu que tive de cuidar das velhinhas que ficaram mais perdidas que cego em tiroteio...

Foi pensando nisso que pensei: Se eu com 8 anos pude, porque meus filhos com o dobro de idade não poderiam ?

Precisamos dar liberdade a crianças para que se sintam responsáveis e aprendam a ter confiança na vida.

Filhotes... Amo vocês.
e deixo minha homenagem a um grande amigo João Manuel de Oliveira Neves, e a sua filha minha amiga, Maria Luisa Oliveira Neves.

Rui Rodrigues

domingo, 14 de janeiro de 2018

Delícias da vida...





De antes de nascermos, só sabemos o que lemos e o que nos falam os ainda vivos. Dos que já foram, não recebemos informações, não nos ensinam nada... Mas do que sabemos, e só sabemos enquanto vivemos, nada melhor do que curtir o que temos...

Um dia a menina de quatro anos disse:
- Meu avô é um idiota!

Meu Deus... Como ela acertou naquele aspecto específico, naquele dia !... Nunca tinha escutado ninguém me dizer isso. Tinha sido a primeira vez... E parei para pensar no que me dissera aquela pequena gota de sapiência ... Realmente ela tinha razão... E percebi que, tal como tinha aprendido com meus filhos desde pequenos, poderia aprender mais com ela.

Aprendi por exemplo com a mãe dela, minha filha, num dia em que chegou do maternal e disse na lata, olhando olho no olho para mim e para a mãe dela:
- Vocês são muito chatos. Vou embora pra casa de minha avó no Rio Grande do Sul...
- Passei o resto do dia, das 18:00 até meia noite, explicando pra ela, as malas já feitas, que não era bom negócio essa coisa de ir viver com a avó... Minha filha hoje é uma campeã, tal como meu filho... Minha neta vai ser uma campeã... Foi ela que me convenceu a parar de fumar, depois de muitos tapas na bunda e carteiras de cigarro desmanchadas, já lá se vão dois anos...

Eu amo a minha família e as famílias que meus filhos vão agregando...

Somos construtores e eu engenheiro de tudo. Maya é e existe por ela mesma...

Rui Rodrigues